Pagers e walkie-talkies: Líbano sofre segundo ataque 'offline' em 24 horas; entenda
Detonação de equipamentos eletrônicos usados pelo grupo extremista deixou nove mortos e quase 3 mil feridos na terça-feira (17), e três mortos nesta quarta (18). Incidentes acendem alerta para escalada do conflito na região. Após pagers, 'walkie-talkies' do Hezbollah explodem em Beirute e no sul do Líbano
Pelo segundo dia seguido, o Líbano enfrenta uma onda de explosão de equipamentos de comunicação. Depois da detonação em massa de pagers usados pelo Hezbollah matarem 12 pessoas na terça (17), walkie-talkies, que também pertenciam à organização extremista, explodiram em diversos locais do país nesta quarta-feira (18).
Três pessoas morreram, e milhares ficaram feridas. Há imagens que mostram detonações ocorrendo em locais com algomerações de pessoas e incêndios em carros e apartamentos.
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SANDRA COHEN: Explosões coordenadas em pagers surpreendem e abalam o Hezbollah
O grupo extremista e o governo do Líbano responsabilizaram Israel , que não se manifestou a respeito. Veja o contexto:
O Hezbollah é uma organização com atuação política no Líbano que possui um braço armado. O grupo é aliado do Irã e do Hamas, sendo considerado terrorista por Israel e pelos Estados Unidos.
Desde 7 de outubro de 2023, quando o Hamas invadiu Israel e provocou uma guerra no Oriente Médio, o Hezbollah vem atacando o território israelense em apoio e solidariedade ao grupo terrorista.
Como resposta, Israel tem bombardeado estruturas do Hezbollah no Líbano. Em julho, um ataque matou Fuad Shukr, um dos comandantes do grupo extremista, o que gerou uma promessa de vingança.
No fim de agosto, o Hezbollah lançou uma grande ofensiva contra Israel, fazendo o país declarar emergência. Para evitar uma ação maior, os israelenses fizeram bombardeios "preventivos" no Líbano.
Uriã Fancelli, mestre em relações internacionais pelas universidades de Estrasburgo e Groningen, ressalta que o episódio pode criar as condições para que Israel entre em um confronto direto com o Hezbollah, escalando o conflito na região. Veja a análise completa ao longo da reportagem.
Fogo após explosões de walkie-talkies no Líbano
Telegram/Reprodução
Nesta reportagem você vai ver:
Como os ataques aconteceram
O que provocou as explosões
Por que o Hezbollah estava usando pagers e walkie-talkies
Quem foi o responsável pelos ataques
O que pode acontecer no futuro
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1. O que aconteceu?
Pagers usados pelo Hezbollah explodiram, em 17 de setembro de 2024
Reuters
Pagers usados pelo Hezbollah começaram a explodir de forma coordenada no Líbano por volta das 15h45 de terça-feira, pelo horário local (9h45, em Brasília). As detonações ocorreram ao longo de mais ou menos uma hora. Entre os mais de 2.700 feridos, cerca de 400 foram socorridos em estado crítico.
O governo libanês pediu que todos os cidadãos que possuem pagers joguem os dispositivos fora imediatamente, segundo a agência de notícias estatal iraniana Irna.
Nesta quarta-feira, porém, uma série de detonações foi reportada no sul de Beirute e no sul do Líbano, redutos do Hezbollah. Desta vez, walkie-talkies usados pelo grupo começaram a explodir, de forma semelhante aos pagers.
Em fotos e vídeos, era possível ver princípios de incêndio em carros e apartamentos, além de explosões e meio a multidões -- inclusive durante o suposto velório de quatro integrandes do Hezbollah mortos no dia anterior.
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2. O que provocou as explosões?
Walkie-talkies destruídos por explosões no Líbano
Telegram/Reprodução
Não há informações sobre qual foi o processo de detonação dos walkie-talkies. É possível que os dispositivos tenham sido armados com artefatos explosivos da mesma forma que os pagers.
Segundo o jornal "The New York Times", autoridades informaram que Israel conseguiu alterar um lote de pagers de uma empresa de Taiwan e encomendados pelo Hezbollah.
Os pagers envolvidos em explosões foram fabricados por uma empresa sediada em Budapeste, informou a empresa taiwanesa Gold Apollo.
As autoridades informaram que uma carga explosiva com menos de 50 gramas foi colocada próxima à bateria de cada pager, junto a um interruptor. Com isso, os pagers puderam ser detonados remotamente.
Por volta das 15h30, pelo horário local (9h30, em Brasília), os equipamentos receberam uma mensagem que parecia ter vindo da liderança do Hezbollah, de acordo com o jornal. Isso pode ter induzido os usuários a se aproximarem ou manusearem os equipamentos.
A mensagem "falsa", no entanto, ativou os explosivos.
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3. Por que o Hezbollah usa pagers e walkie-talkies?
Explosões de walkie-talkies causam caos no Líbano
Fadel Itani/AFP
O Hezbollah usa dispositivos considerados obsoletos, como pagers e walkie-talkies, para evitar o rastreamento de GPS e a obtenção de informações pela inteligência de Israel. Com isso, o uso de smartphones e celulares foi suspenso entre membros do grupo.
O The New York Times informou que o Hezbollah encomendou mais de 3 mil pagers da Gold Apollo. A empresa informou nesta quarta-feira (18) que os aparelhos usados pelos integrantes do Hezbollah não foram produzidos por ela, mas por uma fábrica licenciada pela marca chamada BAC.
Não está clara, até o momento desta publicação, a data de fabricação e a procedência dos walkie-talkies.
Os pagers foram um meio de comunicação móvel desenvolvido nas décadas de 1950 e 1960 que se popularizou durante as décadas de 1980 e 1990, antes do crescimento do uso de celulares.
No Brasil, eles ficaram conhecidos como "bipes". Para se comunicar com alguém, a pessoa precisava ligar para uma central telefônica e informar a um atendente para qual número ela gostaria de enviar uma mensagem — o conteúdo deveria ser curto.
Já os walkie-talkies são conjuntos de dois ou mais dispositivos que mandam e recebem mensagens de áudio entre si via rádio. Eles foram desenvolvidos para uso militar durante a Segunda Guerra Mundial e, posteriormente, ganharam aplicações comerciais e viraram até brinquedos.
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4. Quem foi o responsável pelo ataque?
O Hezbollah e o Irã culpam Israel pelos ataques. Até a publicação desta reportagem ninguém havia assumido a autoria. O governo de Israel também não comentou as acusações.
O jornal "The New York Times", no entanto, disse que autoridades que foram informadas da operação, incluindo um oficial norte-americano, relataram que o Mossad, o serviço secreto de Israel, está por trás da açlão.
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5. O que pode acontecer agora?
Soldados do Hezbollah com um lançador de foguetes Katyusha em foto de abril de 1996
Mohammed Zaatari/AP
O Hezbollah prometeu punir Israel pelas explosões. Nesta quarta (18), o grupo extremista lançou foguetes contra posições de artilharia no norte do território de Israel.
No entanto, o grupo pode enfrentar dificuldades coordenar ações nos próximos dias, já a comunicação era realizada pelos dispositivos que explodiram.
Para o professor Uriã Fancelli, a promessa de retaliação feita pelo Hezbollah levanta preocupações sobre um confronto direto do grupo extremista com Israel. Ele analisa que também há um contexto político envolvendo o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
"Há o fator da sobrevivência política de Netanyahu, que tem fracassado em resgatar os reféns, demonstrando que sua prioridade não é trazer essas pessoas de volta, mas sim aniquilar o Hamas. Até mesmo os aliados israelenses, como os Estados Unidos, estão preocupados", afirmou.
O professor também elencou outros fatores, como as mortes de comandantes do Hezbollah em ataques israelenses.
Além disso, o governo de Israel defende que só poderá levar civis de volta ao norte do país, na região de fronteira com o Líbano, por meio de uma ação militar. O retorno de moradores à região se tornou oficialmente um dos objetivos da guerra.
"Ou seja, esses sinais indicam que Israel pode estar se preparando para algo mais agressivo e bastante arriscado."
"As respostas ao ataque dos pagers, tanto do Irã quanto do próprio Hezbollah, precisarão ser cuidadosamente calculadas para não fornecer a Israel o pretexto necessário para iniciar oficialmente uma nova frente de conflito", disse Fancelli.
A ONU alertou para uma "escalada extremamente preocupante" e pediu para que as partes evitem qualquer ação que possa piorar o conflito no Oriente Médio.
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