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Santa Terezinha,22/12/2024

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Europa está dividida entre repatriar sírios e preencher lacunas no mercado de obra

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Europa está dividida entre repatriar sírios e preencher lacunas no mercado de obra
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Países europeus suspenderam pedidos de asilo de cidadãos sírios após a queda de Bashar al-Assad. Mas refugiados são importantes para trabalhos nas áreas de educação, saúde e construção. Membros da comunidade síria agitam bandeiras nacionais da Síria durante uma manifestação perto de Domplein para celebrar o fim do regime do ditador sírio Bashar al-Assad
ROB ENGELAAR / ANP / AFP
Crescem apelos entre europeus para enviar de volta migrantes sírios após a queda de Assad. Bloco, porém, sofre com a falta de mão de obra qualificada em diversos setores. A Alemanha agiu rápido ao anunciar a suspensão dos pedidos de asilo de cidadãos sírios após a queda do ditador Bashar al-Assad, em 8 de dezembro. Apenas 36 horas após os rebeldes sírios declararem o fim do regime, o governo alemão suspendeu as decisões sobre mais de 47 mil pedidos de asilo pendentes. O exemplo foi seguido posteriormente por França, Reino Unido, Itália e outros países.
Essas decisões causaram preocupações entre os mais de 1,5 milhão de sírios que se estabeleceram na Europa desde o início da guerra civil no país árabe, em 2011. Particularmente alarmantes foram os comentários do ministro do Interior austríaco, Gerhard Karner, que pediu para sua pasta preparar um programa de "repatriação e deportação". Alguns políticos alemães também defenderam propostas semelhantes.
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Os governos europeus parecem querer tirar proveito da queda de Assad para lidar com o crescente descontentamento público com os altos índices de migração em seus países.
Mesmo antes do anúncio da suspensão, mais de 108 mil casos de asilo de sírios estavam pendentes em todos os Estados-membros da União Europeia (UE) no final de outubro, de acordo com a Agência da União Europeia para o Asilo (EUAA).
A rápida decisão marca um forte contraste com o acolhimento observado no auge da crise migratória europeia de 2015 e 2016. Naquela época, os alemães recebiam os refugiados sírios nas estações ferroviárias com garrafas de água e comida.
Sem solução rápida para turbulência na Síria
A suspensão dos pedidos foi ainda mais preocupante em razão do caos atual na Síria, onde o principal grupo rebelde Organização para a Libertação do Levante (Hayat Tahrir al Sham, ou HTS) tenta estabelecer um governo interino.
O que também agrava a situação é a aparente reversão de um dos motivos fundamentais pelos quais a Europa inicialmente aceitou receber cidadãos sírios. Além de atender às necessidades humanitárias, os políticos argumentavam na época que os sírios ajudariam a aliviar a escassez crítica de mão de obra.
Anastasia Karatzas, analista de políticas do think tank Centro de Políticas Europeias (EPC), com sede em Bruxelas, afirma que a União Europeia intensificou recentemente os esforços para devolver um número maior de refugiados a seus países de origem antes da deposição de Assad, apesar da enorme demanda por trabalhadores no continente.
"Há uma necessidade urgente em toda a UE de lidar com a escassez de mão de obra, mas também com a exploração do trabalho, especialmente de trabalhadores migrantes em situação irregular. Agora, porém, há o risco de que priorizar o retorno [dos refugiados] possa acabar ofuscando essas outras prioridades", disse Karatzas à DW.
Integração dos sírios "melhor do que o esperado"
Integrar um número tão grande de refugiados sírios – 972 mil, no caso da Alemanha – em um período tão curto foi certamente uma tarefa desafiadora. No entanto, Philipp Jaschke, pesquisador sobre mercado de trabalho do Instituto de Pesquisa de Emprego (IAB) de Nuremberg, acha que os esforços da Alemanha "funcionaram muito melhor do que o esperado".
"[Os refugiados] deixaram a Síria repentinamente. Muitos deles tiveram experiências traumáticas ao fugir. Quando chegaram, estavam em grande parte despreparados para o mercado de trabalho alemão, e havia muitas barreiras institucionais", disse Jaschke à DW.
Esses obstáculos incluíam longos atrasos para decisões de asilo, aprendizado do idioma alemão, conclusão de estudos e obtenção de qualificações reconhecidas antes de entrar no mercado de trabalho. Tudo isso pode levar anos. Enquanto isso, as perspectivas de emprego dos refugiados geralmente se limitam a cargos de baixa qualificação.
Estudos do IAB sugerem que, em seu país de origem, mais de 90% dos sírios trabalhavam em empregos que, na Alemanha, exigem treinamento vocacional ou diploma universitário. Quando chegaram em solo alemão, cerca de um terço deles trabalhou inicialmente em empregos de baixa qualificação. Seis anos mais tarde, um quarto dos sírios ainda estava nessas funções.
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Motivos da alta do desemprego
Em setembro de 2024, aproximadamente 287 mil sírios estavam empregados na Alemanha, revelou um relatório do IAB publicado em 13 de dezembro. Sua taxa média de emprego caiu, uma vez que um grande número de sírios chegou ao país mais recentemente e ainda está na fase inicial do processo de integração.
Quanto mais tempo os refugiados permanecem na Alemanha, porém, maior a probabilidade de encontrarem um emprego. O IAB revelou que cerca de 61% dos refugiados sírios estavam empregados sete anos após sua chegada.
Embora a taxa oficial de desemprego de 37% entre os sírios seja muito maior do que a taxa nacional alemã, que está em 5,9%, fatores culturais e outros desempenharam um papel significativo. Mais mulheres sírias do que homens estão afastadas do mercado de trabalho. Muitas ocupavam funções familiares tradicionais em seu país de origem e tinham menor probabilidade de ter alguma experiência profissional. Muitas são mães de crianças pequenas.
Karatzas observou – se referindo a Europa como um todo – que também é problemático a discriminação e as "dificuldades persistentes com o reconhecimento de habilidades e qualificações".
Sírios preenchem lacunas no mercado de trabalho
Na Alemanha, quase 30% das refugiadas trabalham nos setores de serviços sociais e culturais, incluindo educação e cuidados infantis. Uma em cada dez trabalha no varejo. Mais de um quinto dos homens refugiados trabalham em logística ou manufatura. Os sírios também têm uma presença significativa nos setores de hospitalidade, saúde e construção, segundo o IAB.
"Esses setores têm grave escassez de mão de obra", explicou Jaschke. "Assim sendo, a Alemanha realmente perderia se essas pessoas fossem embora."
No que diz respeito à questão de quanto sírios gostariam de retornar ao seu país de origem no momento atual, uma pesquisa recente liderada pelo IAB descobriu que mais de 90% dos refugiados sírios que entraram na Alemanha entre 2013 e 2019 declararam que desejavam ficar no país europeu. Isso, contudo, pode mudar frente aos últimos acontecimentos na Síria.
"Quase 40% vivem aqui desde 2015 ou mais. Eles estão ganhando a vida aqui, construíram ambientes sociais, muitos trouxeram suas famílias, então é provável que muitos deles fiquem", disse Jaschke à DW.
Cedo demais para falar em repatriação?
Aqueles que não se integraram à Europa ou não conseguiram encontrar trabalho em um tempo razoável poderão ser pressionados a retornar, ou podem até querer retornar. Outros poderão estar interessados em ajudar a reconstruir a economia síria após a guerra civil de quase 14 anos.
O parlamentar conservador alemão Jens Spahn afirmou recentemente que os sírios deveriam receber apoio de Berlim para retornarem a seu país. Ele mencionou a possibilidade da entrega de um bônus de realocação de mil euros (R$ 6,5 mil) por pessoa e o uso de aviões fretados pelo governo.
Enquanto os argumentos sobre essa questão continuam sendo levantados, Frank Werneke alerta contra um esforço de repatriação em larga escala. O chefe do Verdi, um sindicato do setor de serviços alemão, espera que os ministros "abordem a situação de cabeça fria".
Werneke destacou que é importante que o governo de transição da Síria primeiro reúna "as condições mais democráticas possíveis", considerando as necessidades dos muitos grupos étnicos e religiosos do país.
Em nível europeu, Karatzas se preocupa que o sentimento anti-imigração possa provocar uma reação impulsiva de muitos Estados-membros da UE e os alertou contra tomar decisões precipitadas. "Políticas precisam ser criadas para garantir que as repatriações ocorram de maneira bem administrada, com base em evidências e dados sobre suas contribuições [para o mercado de trabalho]."




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