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Santa Terezinha,30/01/2025

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Maior fator de risco para declínio cognitivo no Brasil não é a idade, e sim a falta de acesso à educação, diz estudo

g1.globo.com
Maior fator de risco para declínio cognitivo no Brasil não é a idade, e sim a falta de acesso à educação, diz estudo
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Cientistas brasileiros analisaram as causas desse problema (que faz parte do quadro de demência) e descobriram que, aqui no país, a baixa escolarização ‘pesa mais’ do que fatores demográficos, como faixa etária ou sexo do paciente. Pesquisa foi publicada no “The Lancet” nesta quarta-feira (29). Baixa escolarização é fator determinante para o desenvolvimento de demência no Brasil
Prefeitura de Uberaba/Divulgação
Especificamente no Brasil, o maior fator de risco para alguém desenvolver declínio cognitivo — que faz parte do quadro de demência — não é a idade avançada, e sim a falta de acesso à educação. É o que afirma um estudo inédito feito por pesquisadores brasileiros e publicado nesta quarta-feira (29) na revista científica “The Lancet”, uma das principais do mundo.
➡️Qual é a principal conclusão? Aqui no país, a escolarização (ou seja, por quantos anos a pessoa estudou ao longo da vida) mostrou-se o elemento mais determinante no processo de envelhecimento cerebral (entenda mais abaixo).
Para os cientistas chegarem a esse resultado, foram analisados dados de 41 mil pessoas na América Latina: tanto do mesmo grupo econômico do Brasil, como Colômbia e Equador, quanto de nações que estão um degrau acima do nosso nos critérios do Banco Mundial (caso do Chile e do Uruguai).
Nas regiões mais pobres, a disparidade social e os problemas nos sistemas de educação e de saúde aumentam a probabilidade de alguém desenvolver demência. Já entre os mais ricos, fatores demográficos têm maior "peso".
🧠O que é demência? É uma condição crônica progressiva (ou seja, piora com o tempo) que afeta funções cerebrais importantes, como a memória, o raciocínio e a linguagem. Apesar de poder ser tratada, não tem cura. Entre os sintomas, estão: dificuldade de se lembrar de fatos recentes ou de palavras, confusão mental e perda da autonomia no dia a dia.
“Nosso estudo acaba comprovando que a educação, que é um fator social, tem um impacto maior no Brasil [no desenvolvimento da demência] do que idade ou sexo, diferentemente do que acontece na Europa e nos Estados Unidos", explica ao g1 Wyllians Borelli, professor do Departamento de Ciências Morfológicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
"Conseguimos mostrar que a determinante social tem, sim, total influência na cognição e na independência do indivíduo", diz.
Essa conclusão é fundamental para incentivar políticas públicas e investimentos sociais, reforçam os cientistas.
🌏Observação: Em países mais igualitários, é difícil obter dados para analisar o impacto da educação no desenvolvimento cerebral. Já no Brasil, a discrepância social é tamanha que possibilita a comparação entre um grupo mais escolarizado e outro que teve menos oportunidades.
Há quase 10 milhões de jovens de 15 a 29 anos que não concluíram a educação básica, por exemplo, segundo a Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Pnad - IBGE).
E entre os 9,3 milhões de adultos e idosos analfabetos, mais da metade (54,7%) vive na região Nordeste.
Por isso, o grupo de cientistas brasileiros insistiu na importância de estudar especificamente o cérebro do brasileiro, em vez de tomar como globais as conclusões de pesquisas em países desenvolvidos.
✏️Por que a educação tem a ver com o declínio cognitivo?
Aos poucos, até os 20 anos, construímos uma “reserva cognitiva”: ao praticarmos atividades que promovem nosso raciocínio (como a leitura), formamos uma espécie de “poupança”, que vai ficar armazenada no cérebro e pronta para ser usada no futuro.
À medida que envelhecemos, o cérebro pode acumular proteínas insolúveis (como a beta-amiloide), que formam “gruminhos”. Esse processo está associado à neurodegeneração, ou seja, ao desgaste e à morte de células nervosas. É o que acontece, por exemplo, na demência.
É a hora, então, de usar a “poupança cognitiva” que ficou guardada ao longo da vida. Ela pode retardar o aparecimento de sintomas.
“Não que estudar vá impedir o acúmulo das proteínas. Imagine o mesmo dano cerebral em duas pessoas: uma que estudou menos e outra que estudou mais. Na primeira, os sintomas vão aparecer antes. Na pessoa que foi mais estimulada, ela ‘aguenta’ esses danos cerebrais por mais tempo e retarda os sinais por 5, 10 anos”, diz Lucas Uglione Da Ros, doutorando em farmacologia e terapêutica pela UFRGS.
➡️Conclusão: quando estudamos e recebemos estímulos, principalmente na infância e na juventude, nosso cérebro fica mais resistente ao declínio cognitivo e a possíveis lesões futuras.
De mais bem simplificada, é possível pensar no seguinte cenário:
O neurônio A quer buscar uma informação no neurônio B, no qual está guardada alguma memória.
Quem tem uma reserva cognitiva maior vai encontrar diferentes “rotas” para ir do neurônio A até o B. Se um desses caminhos for “obstruído” no envelhecimento, haverá uma alternativa para chegar ao destino.
Em pessoas com menor reserva, pode não haver uma segunda opção de trajeto. Essa memória, então, ficará prejudicada.
🧑‍🎓Só a educação formal conta?
O g1 perguntou aos pesquisadores se somente a educação formal (em escolas e em universidades) é capaz de influenciar tão significativamente os riscos de desenvolvimento do declínio cognitivo. Será que ler livros, fazer cruzadinhas, resolver desafios de lógica e aprender novos idiomas também podem ser tarefas que diminuam os riscos dessa condição?
É bem provável que sim, mas não há como provar em um estudo como esse. Por isso, os pesquisadores concentraram-se no que é mais simples de mensurar em diferentes países: os anos de escolaridade.
“A gente acha que pessoas curiosas, que leem bastante, também devem conseguir aumentar a reserva cognitiva e diminuir os fatores de risco. Mas é difícil de avaliar. Precisaria saber os hábitos de leitura de cada um; os conhecimentos de outra língua; o tipo de ocupação que exerce, em termos de complexidade…”, explica Borelli.
🔣E é possível diminuir o risco mesmo após adulto?
Eduardo Zimmer, professor da UFRGS apoiado pelo Instituto Serrapilheira, afirma que seu grupo está em busca dessa resposta.
“Em um próximo estudo na UFRGS, vamos tentar avaliar se dar educação mais tarde, como na EJA [Educação de Jovens e Adultos], funcionaria como fator protetor [contra a demência]. Ou se incentivar adultos de 50 anos a fazer faculdade também poderia ter esse efeito”, explica.
🧠Quais outros fatores podem aumenta os riscos de demência?
A ciência elenca outros elementos além da educação, como:
perda auditiva;
hipertensão;
obesidade;
tabagismo;
depressão e transtornos de saúde mental;
isolamento social;
consumo elevado de ultraprocessados;
sedentarismo.
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