Sede da agência de ajuda humanitária dos EUA amanhece fechada após Musk dizer que quer eliminá-la
Funcionários da USaid, responsável por 40% de toda a ajuda humanitária aplicada no mundo, foram instruídos a não comparecer na sede da agência, em Washington. Na madrugada, Musk chamou a agência de 'ninho de vermes' e defendeu que ela deve ser fechada. Fachada da sede da USaid, a agência de ajuda humanitária dos EUA, em 1º de fevereiro de 2025.
Annabelle Gordon/ Reuters
Funcionários da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USaid, na sigla em inglês), que o bilionário Elon Musk disse que quer fechar, foram instruídos nesta segunda-feira (3) a não entrar na sede da agência, em Washington, que ficou fechada.
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Na madrugada desta segunda, Musk, que comanda o departamento do governo de Donald Trump para reduzir gastos de Estado (DOGE, na sigla em inglês) defendeu que a USaid deve ser fechada e disse que o presidente dos EUA concordou em encerrá-la.
Nesta manhã, funcionários da USaid receberam um aviso pedindo para que "fiquem fora" da sede da agência, responsável por 40% de toda a ajuda humanitária no mundo e o maior doador individual de ajuda no planeta.
Seiscentos funcionários também relataram que tiveram seus acessos aos sistemas de computador da agência bloqueados já na noite de domingo (2). Já os que ainda tinham acesso ao sistema receberam e-mails dizendo que "sob a direção da liderança da agência", o prédio da sede "será fechado para o todo o pessoal na segunda-feira, 3 de fevereiro".
A USaid, que tem mais de 10 mil funcionários, forneceu 42% de toda a ajuda humanitária no mundo rastreada pelas Nações Unidas (ONU) em 2024.
A agência é também o maior doador individual do mundo. No ano fiscal de 2023, os EUA destinaram por meio da agência um total de US$ 72 bilhões (cerca de R$ 420,7 bi) em ajuda humanitária para diversas áreas, incluindo saúde feminina em zonas de conflito, acesso à água potável, tratamentos para HIV/AIDS, segurança energética e combate à corrupção.
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Segurança revista caixas da USaid, maior agência humanitária dos EUA que Elon Musk quer fechar.
Fernando Vergara/ AP
O bilionário Elon Musk afirmou nesta segunda-feira (3) que deve fechar a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USaid, na sigla em inglês), órgão de ajuda externa do governo norte-americano.
Musk, CEO da rede social X, da Tesla e da Space X, também lidera atualmente um departamento do governo de Donald Trump para reduzir gastos de Estado, o DOGE, na sigla em inglês.
“Ficou evidente que não se trata de uma maçã com um verme dentro, o que temos é simplesmente um ninho de vermes. Temos que nos livrar de tudo, está além de qualquer conserto. Vamos fechá-la”, disse Musk durante uma transmissão de áudio ao vivo no X com seu ex-companheiro no comando do DOGE, o também bilionário Vivek Ramaswamy e os senadores republicanos Joni Ernst e Mike Lee.
Ele afirmou que o presidente dos EUA, Donald Trump, concorda que a agência deve ser fechada.
Gesto de Musk gera polêmica durante fala do bilionário em evento da posse de Trump
O site da USaid ficou fora do ar desde sábado (1º), e alguns usuários ainda não conseguiam acessá-lo no domingo (2).
O site da agência, que tem mais de 10 mil funcionários, permanecia fora do ar até a última atualização desta reportagem, na manhã desta segunda-feira. A conta da USaid no Instagram, que tem mais de 400 mil seguidores, está suspensa.
No domingo, o governo Trump removeu dois altos funcionários de segurança da USaid durante o fim de semana, após tentarem impedir representantes do DOGE de acessarem áreas restritas do prédio do órgão, segundo três fontes ouvidas pela agência de notícias.
Após esse episódio, Musk chamou a USaid de "organização criminosa". "A USaid é uma organização criminosa. É hora de acabar com ela", afirmou em resposta a um comentário no X no domingo.
Congelamento de ajuda externa
Donald Trump suspende liberação de trilhões de dólares em assistência do governo dos EUA.
Na semana passada, Trump já havia ordenado o congelamento global na maioria dos fundos de ajuda externa dos EUA como parte de sua política “EUA em primeiro lugar”, o que já está causando impacto em diversas partes do mundo.
Hospitais de campanha em campos de refugiados na Tailândia, remoção de minas terrestres em zonas de guerra e medicamentos para milhões de pessoas com doenças como HIV estão entre os programas em risco de serem eliminados.
Musk estimou que o governo Trump poderá reduzir o déficit dos EUA em US$ 1 trilhão (cerca de R$ 5,84 trilhões) no próximo ano.
Ele afirmou, por exemplo, que “quadrilhas estrangeiras de fraude profissional” estão roubando grandes quantias ao se passarem por cidadãos digitais falsos dos EUA. Musk não apresentou evidências para sustentar sua afirmação nem explicou como chegou ao valor mencionado.
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Acesso ao Tesouro
O anúncio de Musk acontece também em meio a preocupações sobre o acesso de Musk ao sistema do Tesouro dos EUA.
O jornal norte-americano "The New York Times" revelou que o sistema, responsável por mais de US$ 6 trilhões (cerca de R$ 35 tri) anuais em pagamentos para agências federais, também contém dados pessoais de milhões de americanos que recebem benefícios da Previdência Social, restituições de impostos e outros pagamentos do governo.
O democrata Peter Welch, membro do Comitê de Finanças do Senado, pediu explicações sobre a razão de Musk ter recebido acesso ao sistema de pagamentos, que inclui dados sensíveis dos contribuintes.
“É um abuso grosseiro de poder por parte de um burocrata não eleito e mostra que dinheiro pode comprar poder na Casa Branca de Trump”, disse Welch em um comunicado por e-mail.
Musk tem o apoio de Trump, e sua equipe já obteve acesso ou assumiu o controle de vários sistemas governamentais, inclusive informações confidenciais da USaid.
Na sexta-feira, assessores de Musk encarregados de administrar a agência de recursos humanos do governo dos EUA bloquearam o acesso de servidores de carreira a sistemas que contêm dados pessoais de milhões de funcionários federais, segundo dois funcionários da agência.
Uma equipe composta por funcionários atuais e ex-funcionários de Musk assumiu o controle do Escritório de Gestão de Pessoal (OPM, na sigla em inglês) em 20 de janeiro, dia da posse de Trump, segundo a Reuters.
Desde que assumiu o cargo há 11 dias, Trump iniciou uma ampla reformulação do governo, demitindo e afastando centenas de funcionários públicos em seus primeiros passos para reduzir a burocracia e instalar mais aliados leais.
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