Trump anuncia tarifas recíprocas e setoriais para 2 de abril e diz que não haverá exceções para taxas de aço e alumínio

Presidente dos EUA ainda afirmou que devem surgir taxas adicionais nas tarifas de automóveis, aço e alumínio. Donald Trump
REUTERS/Kevin Lamarque
O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou que as tarifas recíprocas e setoriais passarão a valer a partir de 2 de abril. Confirmação foi feita na madrugada desta segunda-feira, a bordo do Air Force One, que viajava da Flórida para a capital do país.
Em declaração à imprensa, Trump disse que as tarifas recíprocas sobre os parceiros comerciais dos EUA viriam junto com as tarifas automobilísticas.
"Em certos casos, ambos", disse Trump quando perguntado se ele imporia tarifas setoriais e recíprocas em 2 de abril. "Eles nos cobram, e nós os cobramos. Então, além disso, em automóveis, em aço, em alumínio, vamos ter alguns adicionais", afirmou.
Além disso, o presidente disse que não tem intenção de criar isenções nas tarifas de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio que chegam aos EUA que entraram em vigor na semana passada.
As taxas sobre importações no país são uma das principais promessas de campanha eleitoral de Trump, que afirma que quer proteger a indústria norte-americana. No entanto, a alta tarifação tem gerado temores de que o país possa viver um período de inflação maior e até uma recessão econômica, além de contribuir para uma crescente guerra comercial.
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O que são as tarifas recíprocas?
Sem serem classificadas como uma taxa específica para países determinado, as tarifas recíprocas são uma orientação geral de reciprocidade aos países que impõem dificuldades ao comércio com os EUA.
Elas estão alinhadas com as promessas do presidente Trump de taxar seus parceiros comerciais. Os principais alvos são países com os quais os EUA têm déficit na balança comercial — ou seja, gastam mais com importações do que recebem com exportações.
Chamado de "Plano Justo e Recíproco", o memorando buscará "corrigir desequilíbrios de longa data no comércio internacional e garantir justiça em todos os aspectos".
Anteriormente, quando anunciou pela primeira vez as tarifas, o governo dos EUA citou o etanol brasileiro como exemplo.
"A tarifa dos EUA sobre o etanol é de apenas 2,5%. No entanto, o Brasil cobra uma tarifa de 18% sobre as exportações de etanol dos EUA. Como resultado, em 2024, os EUA importaram mais de US$ 200 milhões em etanol do Brasil, enquanto exportaram apenas US$ 52 milhões em etanol para o Brasil".
Trump também afirmou que os países do BRICS — grupo de coordenação econômica formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — podem sofrer uma taxa de no mínimo 100% se quiserem "brincar com o dólar".
O presidente republicano já havia feito uma ameaça semelhante no ano passado, após o bloco sinalizar que discutia a possibilidade de substituir o dólar norte-americano por outra moeda em suas transações.
Tarifaço de Trump
Segundo Trump, a aplicação de tarifas visa lidar com déficits comerciais e problemas nas fronteiras, como a travessia de migrantes sem documentos e o tráfico de fentanil. Ele também afirmou que irá impor taxas sobre a União Europeia, mas não detalhou a alíquota ou quando isso acontecerá.
Medidas como o aumento de tarifas de importação e a política anti-imigração de Trump podem gerar mais inflação nos EUA. Além disso, a renúncia de impostos para favorecer as empresas norte-americanas é vista como um risco para as contas públicas do país.
Esses fatores indicam que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) terá mais dificuldade em controlar a inflação, o que pode levar a instituição a manter seus juros elevados por mais tempo. Juros maiores elevam a rentabilidade dos títulos públicos dos EUA, considerados os mais seguros do mundo, o que aumenta o fluxo de investimentos nesses ativos e favorece o dólar.
No Brasil, a fuga de capital e a consequente valorização da moeda americana devem fazer com que o Banco Central (BC) continue elevando a Selic, taxa básica de juros, hoje em 13,25% ao ano, impactando negativamente a atividade econômica brasileira.
Além disso, o Brasil e o mundo também podem ser afetados por uma desaceleração da economia norte-americana e de outros países envolvidos na crescente guerra comercial, como a China e a União Europeia.
Outro reflexo para o Brasil é o aumento de oferta de produtos chineses. Com os EUA importando menos do país, itens manufaturados asiáticos (com preços muito mais baixos) tendem a buscar outros mercados.
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